domingo, 27 de maio de 2007

Alexandre G. de Almeida (Xandico)

Alexandre G. de Almeida (1860-1920), também conhecido como Xandico, célebre compositor e pianista brasileiro. Em um artigo publicado na Revista Musical Brasileira N. 5, no capítulo "O piano e os pianeiros", cujo trecho é reproduzido abaixo, o Prof. Aloisio de Alencar Pinto faz referência ao célebre pianista Xandico, apelido do compositor Alexandre G. de Almeida:

"Brasílio Itiberê, na sua famosa conferência Ernesto Nazareth na Música Brasileira, descreve com uma verve extraordinária o que era a figurinha desses músicos populares, e esclarece:

Esse pianeiro carioca teve um relevo e uma função social muito importante nesse velho e ditoso 1900. Ele era o pivot de todas as cerimônias sociais: bailes, batizados, aniversários casamentos. Esse pianeiro, dengoso e macio, por quem as meninas se apaixonavam e que tocava a Dalila, é uma tradição que desapareceu. A técnica brutal de percussão do piano de jazz deturpou e matou o último pianeiro carioca." E conclui: "Só quem ouviu tocar um Aurélio Cavalcanti, o Porfírio da Alfândega, o Chirol, o Garcia Cristo, ou o Xandico, — pode ter uma idéia bem nítida de que foram esses beneméritos e analisar a importância de sua função social."

Partituras disponíveis

01. Chile - Brazil
02. Carinhosa
03. Pretenciosa

Esther Pedreira de Cerqueira

Canções infantis tradicionais da Bahia recolhidas pela folclorista Esther Pedreira de Cerqueira. As partituras disponíveis em Luna Digital Musici foram arranjadas para voz (ou flauta) e piano.

01. Ciranda Cirandinha
02. Caranguejo não é Peixe
03. Canção de Ninar Nº 1
04. Canção de Ninar Nº 4
05. No Caminho da Roça

José Garcia de Christo

José Garcia de Christo (1867-1919), pianista e compositor que atuou nos salões cariocas como pianeiro. Compôs valsas, polcas e schottischs publicadas por diversas casas editoras cariocas. Sua obra parece que foi editada quase que exclusivamente para piano-solo, ou piano e canto. Em um artigo publicado na Revista Musical Brasileira N. 5, no capítulo "O piano e os pianeiros", de autoria do Prof. Aloisio de Alencar Pinto, cujo trecho é reproduzido abaixo, há uma referência ao compositor em apreço:

"Brasílio Itiberê, na sua famosa conferência Ernesto Nazareth na Música Brasileira, descreve com uma verve extraordinária o que era a figurinha desses músicos populares, e esclarece: "Esse pianeiro carioca teve um relevo e uma função social muito importante nesse velho e ditoso 1900. Ele era o pivot de todas as cerimônias sociais: bailes, batizados, aniversários e casamentos. Esse pianeiro, dengoso e macio, por quem as meninas se apaixonavam e que tocava a Dalila, é uma tradição que desapareceu. A técnica brutal de percussão do piano de jazz deturpou e matou o último pianeiro carioca." E conclui: "Só quem ouviu tocar um Aurélio Cavalcanti, o Porfírio da Alfândega, o Chirol, o Garcia Cristo, ou o Xandico, — pode ter uma idéia bem nítida de que foram esses beneméritos e analisar a importância de sua função social."

A polca denominada Girondinos, de autoria de Christo, faz parte do bailado Sarau de Sinhá, em um arranjo para piano a 4 mãos. O Sarau de Sinha é uma suite, um conjunto de danças arranjadas para 2 pianos pelo Prof. Aloysio de Alencar Pinto. É um pequeno balé, um balé em uma parte, uma espécie de divertimento coreográfico sobre cenas de uma festa no Rio de Janeiro antigo. Nesse balé, estão algumas danças do séc. XIX, danças européias aclimatadas no Brasil, como a Polca, a Schottisch, a Contra-dança, a Valsa. Esta polca foi dedicada ao clube carnavalesco Girondinos. Sobre essa agremiação esclarece o historiador Nelsinho Crecibeni, autor do livro "Convocação geral: a folia está nas ruas":

"Nessa época não se usava música nacional, utilizava-se a polca, a quadrilha, os xotes, músicas de origem européia. Isso nos salões, porque praticamente não havia manifestações na rua. Os grupos que saíam à rua iam na intenção de, logo na seqüência, dirigirem-se a um salão, onde aconteciam as grandes manifestações carnavalescas na cidade", explicou Crecibeni, lembrando de grupos da época, como Tenentes do Diabo, Tenentes de Plutão, Fenianos e Argonautas. Eram sociedades que existiam em São Paulo e, simultaneamente, no Rio de Janeiro", acrescentou. Já o Girondinos reunia, na mesma época, a elite intelectual paulistana. Formado por jornalistas, estudantes e pessoas ligadas à política, o grupo tirou seu nome de um café famoso na época, que ficava na junção da Praça da Sé com a rua XV de Novembro, onde se localizavam as redações dos grandes jornais e ocorriam as maiores manifestações políticas".

Algumas edições em notação moderna estão nos endereços abaixo:

01.Girondinos (polca)
02.Idyllios D'Amor (valsa)
03.Pense á Moi (valsa)
04.Sorrisos de Anjo (valsa)

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Scott Joplin - O Rei do Ragtime

Scott Joplin (MPI/Getty Images)
O Compositor

Scott Joplin, compositor e pianista americano. Considerado um dos três mais importantes compositores de ragtime ao lado de James Scott e Joseph Lamb.

Pleasant Moments: Ragtime Waltz

Neste post estão disponíveis duas gravações para piano de rolo. Um gravação é da Connorized (1), de acordo com a informação encontrada na Wikipedia (2). A outra gravação não sabemos a quem atribuir, haja vista que no site (3) onde a encontramos não foi informado a fonte. A gravação de Connorized, foi feita pelo próprio Scott Joplin que em abril, maio e junho de 1916, gravou sete rolos. O sexto rolo, Pleasant Moments, foi anunciado no catálogo da Connorized, mas, nenhuma cópia foi encontrada nos últimos 90 anos. Só agora localizou-se uma cópia (4). Comparamos as duas gravações e achamos que a versão atribuída a Connorized é superior a encontrada em Classici Stranieri.

Pleasant Moments: Ragtime Waltz (Connorized) -> mp3 - partitura (fonte: Classic Ragtime Piano)

Maple Leaf Rag

Localizamo no site da NPR (5) duas gravações para piano de rolo (uma editada e outra não editada). Segundo comentário no site, esta é uma gravação que o próprio compositor fez para a Connorized, em abril de 1916. Ainda segundo a NPR, a performance de Joplin é fraca e ele foi melhor compositor do que pianista.

Também encontramos uma gravação da compositora e pianista inglesa Vera Guilaroff que viveu em Montreal. A performance é bastante ligeira (6).

Há no site da Biblioteca do Congresso Americano (7), um compact disc (CD)intitulado "The Robert E. Lee" com uma gravação de Maple Leaf Rag, com Bob Milne ao piano.

Baixe Maple Leaf Rag (Piano Roll) -> mp3 - partitura

Baixe Maple Leaf Rag (Vera Guilaroff) -> mp3

The Entertainer

Baixe a partitura de The Entertainer (Johns Hopkins University Levy Collection). Também está disponível na Biblioteca do Congresso uma gravação (mp3) de The Entertainer (8).

Scott Joplin's New Rag

Encontramos um gravação desta música feita por Jazz Classics e que foi transcrita a partir de uma gravação para piano de rolo (9).

Baixe Scott Joplin's New Rag -> mp3 - partitura

Solace: A Mexican Serenade

Há en NPR um gravação de Joshua Rifkin, um pianista, musicologo e expert em música barroca, feita em 1972 para a gravadora Nonesuch (10).

Baixe a partitura de Solace: A Mexican Serenade (fonte: Classic Ragtime Piano)

20 Original Piano Rolls

Esta é a lista com 20 gravações para piano de rolo, segundo a informação contida no site Classici Stranieri, mas que desconhecemos a autoria dos rolos. Elas podem ser modificadas e distribuidas conforme licença Creative Commons (11):

The Entertainer
Pine Apple Rag
Reflection Rag
The Ragtime Dance
Sugar Cane
Combination March
Elite Syncopations
A Real Slow Rag
Paragon Rag
Scott Joplin's New Rag
Solace
Paecherine Rag
Rose Leaf Rag
Swipesy
The Sycamore
Stoptime Rag
The Silver Rag
Original Rags
Pleasant Moments
Scott Joplin's Best Rag

Baixe Original Piano Rolls (20 gravações) -> mp3

Links

No blog MetroBase há um post com o disco "Scott Joplin's Greatest Hits" do pianista Richard Zimmerman (Legacy International, 1994). Confira aqui.

Notas:

(1) Connorized Music Co.
(2) Wikipedia
(3) Classici Stranieri
(4) Pianola
(5) NPR
(6) Joplin anotava nas partituras recomendações a respeito da velocidade de execução de suas composições, com expressões tais como: "Do not play this piece fast. Composer.", "It is never right to play Ragtime fast", "Not fast", "Play a little slow" .
(7) CD disponível para download na Biblioteca do Congresso Americano
(8) Há duas faixas adicionais no CD supracitado: St. Louis Rag (Tom Turpin) e Ouverture de la Grande Rodent (B. Milne), ambas com Bob Milne ao piano.
(9) Biblioteca do Congresso Americano - Transcribed from Piano Roll (courtesy of Jack Whitstance).
(10) Minnesota Public Radio
(11) Creative Commons

terça-feira, 22 de maio de 2007

Chiquinha Gonzaga

Fonte: Palcos e Salões - Colectaneas Rabello, 1924, Vol 1
A Vovó dos Artistas (1)

Chiquinha Gonzaga foi um dos maiores valores femininos do Brasil. Na vida brilhante dessa grande artista há uma força recôndita a impeli-la para as iniciativas vitoriosas. Chiquinha Gonzaga foi o primeiro nome feminino que se popularizou na música brasileira. Afrontando a opinião severa da época, foi a primeira mulher que escreveu para teatro.

Animada pelos sucessos de suas partituras, para corresponder à homenagem do público que a festejava, regeu a orquestra do teatro conjuntamente com uma banda do teatro conjuntamente com uma banda de música militar, num espetáculo do Theatro Lyrico, em 1885. Tornou-se, daí em diante, a primeira maestrina brasileira.

Numa de suas viagens à Europa, reconhecida pelos apreciadores de suas músicas, diariamente aplaudidas em Lisboa na interpretação de Os Geraldos, cançonetistas do Rio antigo, viu-se na contingência de musicar libretos dos mais festejados teatrólogos portugueses. Foi assim a primeira mulher brasileira que se exibiu no estrangeiro como compositora teatral.

Completamente liberta de preconceitos, inteligente, bonita, elegante, sedutora mesmo, mas pobre, criou um tipo interessante, quando surgiu pela primeira vez de lenço à cabeça em lugar de chapéu. Foi além: desejando ouvir uma famosa cantora lírica e tendo verba, assistiu ao espetáculo das “torrinhas”. O fato, inédito no Rio, devia provocar escândalo. Ao contrário, Chiquinha, ao ser percebida, foi ovacionada pelos seus admiradores.

E, para dar um fecho de ouro aos seus ineditismos brilhantes, Chiquinha escreveu aos oitenta e três anos a sua última partitura, batendo o recorde de compositora. Mas isso não se deu só em relação à idade, também o foi em relação à música e quiçá em quantidade.

Chiquinha Gonzaga tem mais para mais de duas mil composições, desde as peças de maior responsabilidade aos maxixes malandros, verdadeira gíria sonora carioca. Compos setenta e seis partituras teatrais, apenas cinco peças inéditas e uma grande maioria de estrondosos sucessos.

Bem mereceu a popularidade que goza no Brasil e em Portugal. Não foi fácil, porém, a escalada para a glória. Ela mesma, quando determinou o epitáfio, confessou que sofreu e chorou, alegrando o povo de sua terra.

Quanta amargura devia ter sentido quando, depois de escrever a sua primeira partitura, a de Viagem ao Parnaso, de Arthur Azevedo, ouviu, de mistura com o elogio, a sentença cruel do empresário: Mulher não pode compor para teatro. Lágrimas benditas as que derramou a gloriosa artista. Deram-lhe forças para novas tentativas que foram coroadas de êxito retumbante.

Na história do teatro popular brasileiro fulge o nome de Chiquinha Gonzaga. O caso mais sensacional foi o do “Forrobodó”. Teve mil e quinhentas representações seguidas. Peça de novatos no tempo, Luiz Peixoto, Carlos Bittencourt, que tiveram a colaboração de Raul Pederneiras e a música de Chiquinha Gonzaga. A revista interessantíssima era de um humorismo irresistível. A montagem, porém, foi descuidada: custou apenas cento e vinte mil reis. Havia em todos, desde a estrela ao carpinteiro, uma grande má vontade. Ninguém esperava nada da peça. O próprio Alfredo Silva, ator querido, antes de subir o pano, lançou nos bastidores uma frase chula à peça. Só Chiquinha confiava no “Forrobodó”.Tinha certeza de que a revista seria um “Forrobodó de massadas, gostoso como ele só...”, por isso retrucou aos artistas: - Quem sabe se esse “Forrobodó” não lhe vai dar muito dinheiro! E deu mesmo, ao empresário e artistas, porque os autores, sem a regulamentação dos direitos autorais, não chegaram a ganhar cem mil réis.

Na estréia do “Não Venhas” de Baptista Coelho, o João Phoca, musicada pela maestrina, um autor despeitado pela preferência da exibição encomendara a claque uma grande pateada. Mal subiu o pano começaram as hostilidades que foram aumentando a ponto ser perturbada a representação. Raul Pederneiras, que estava na platéia, pulou no palco, juntamente com outros rapazes e, fazendo com que Chiquinha trouxesse à cena o autor, forçou a claque a desistir dos apupos sob aplausos da platéia. De Raul musicou Chiquinha vários números da revista “O Esfolado”, levada à cena em 1902.

A crítica aos votos eleitorais dos defuntos, tão usados pela politicagem da época, viveu no número “Meu defunto marido, o Garcia”, musicado por Chiquinha e interpretado por Éster Bergerath, que teve de voltar à cena várias vezes, tantos foram os aplausos.

“Jandyra”, linda peça regional sul-riograndense, de Rubem Gill e Alfredo Breda, na qual estreou Ítala Ferreira, comediante dos nossos dias, é uma original trama em estilo gaúcho, recompondo a vida agreste das cochilas. Com sugestiva música de Chiquinha alcançou grande sucesso no Recreio.

A famosa musicista não compôs apenas partituras para revistas ou fantasias musicadas: “As Três Graças” e “A Bota do Diabo” são óperas cômicas de música muito bem feitas. Nomes brilhantes como Arthur Azevedo, Valentim Magalhães, Ozório Duque Estrada, Oscar Pederneiras, Felinto de Almeida, Cardoso de Menezes, Antonio Quintiliano, Avelino de Andrade e muitos outros assinaram libretos com partitura de Chiquinha Gonzaga.

Muito nome consagrado entrou nos meios artísticos sob a influência da maestrina. Viriato Corrêa confessou publicamente que “em literatura teatral entrei guiado por sua mão generosa”. Foi em “A Sertaneja”, alias batizada por Chiquinha que não gostara do título apresentado para a peça: “A Mulata”. No dia da estréia a linda música de Chiquinha muito concorreu para os aplausos recebidos por Viriato que ao terminar o primeiro ato exclamou radiante: - Estou feito! “A Jurity” principalmente e “Maria” depois foram peças aplaudidíssimas.

Vicente Celestino simples corista, por imposição de Chiquinha estreou como cantor em “A Jurity”. A sua extensa voz de tenor assegurou-lhe a popularidade que goza. Procópio, que se inciara como ator de teatros suburbanos, encontrou em “A Jurity” e sob a influência de Chiquinha a sua primeira escalada para a fama que hoje desfruta. Raul Pederneiras referindo-se à música de Chiquinha afirmou que “fora a salvação de muita peça”.

Chiquinha foi a verdadeira mascote das peças teatrais. Muito franca, arrebatada até, era no entanto bondosa e prestativa. Mas não musicava peça que não lhe agradasse.

Envelheceu no teatro. Da memória da cidade não se apagará a figura simpática daquela velhinha que ao lado do filho extremoso comparecia a todas as estréias teatrais. No coração dos artistas brasileiros há de haver sempre uma homenagem de saudade para aquela que foi a “Vovó dos Artistas”.

Fonte: Palcos e Salões - Colectaneas Rabello, 1924, Vol 1Alma Cantante do Brasil

A história da música do nosso povo nos três primeiros séculos da vida brasileira permanece desconhecida. Os estudiosos nada desvendaram além dos meados do século XIX, quando se notam as primeiras tentativas de nacionalização da nossa música popular. Sente-se, porém, que a música do nosso povo, quase nativa, é bela entre as mais belas. A riqueza melódica e a variabilidade rítmica de todo o Brasil, ressoa na Cidade Maravilhosa onde se vão desdobrando as páginas brilhantes da sua história sonora.

Depois de Calado, primeiro professor de flauta do antigo Instituto Nacional de Música e maior flautista do segundo Império, segue-se a figura admirável de Chiquinha Gonzaga, grande compositora popular e primeira maestrina brasileira. A obra artístico-musical de Chiquinha Gonzaga é a própria alma brasileira a cantar, o esplendor da terra. A inspiração inata e pura da grande compositora, venceu preconceitos, calcou interesses e irreprimível, explodiu surpreendente, nova, estranha, mas, genuinamente nacional. A forma simples de expandir essa inspiração, não tem a ingenuidade espontânea do seresteiro, nem está presa a exigências técnicas de harmonização, possui entretanto uma e outra cousa.

A música de Chiquinha Gonzaga é uma verdadeira conciliação entre a “giria” sonora carioca e as produções de conservatório. Os recursos harmônicos da grande musicista, de uma originalidade encantadora resultaram composições admiráveis onde há som, perfume, ardência e sobre tudo sabor de cousa gostosa. O ritmo travesso vagueia irrequieto do terno ao romântico, ao quase lírico, do descritivo, do audacioso ao apoteótico, mas sempre sinceramente brasileiro. Não é cópia nem adaptação estrangeira, é o Brasil que canta a ardência do sol, o lirismo da lua, o mistério das florestas, os soluções das águas, o Brasil forte e ardente que gargalha ruidoso as suas alegrias e as suas festas.

Chiquinha Gonzaga que a 17 de Outubro completaria o seu 92º aniversário, deixou-nos preciosa obra musical. Mais de 2.000 composições sobre todos os gêneros, do sacro ao brejeiro, todas elas originais, únicas e 77 partituras teatrais de peças dos mais consagrados autores nacionais e portugueses, estando inéditas apenas cinco.

Durante 50 anos trabalhou pelo engrandecimento musical e teatral do seu povo. As suas composições são a síntese das nossas sonoridades tropicais, atravessaram o Atlântico, alegraram Paris, popularizaram-se em Portugal, chegaram à América do Norte e foram plagiadas em Berlim, segundo notícias de então.

Atrahente, a polca que marcou o seu primeiro sucesso, uma obra prima, Linda Morena, Menina Faceira, Carioca, Sultana, Saudade, Tupan, Sonhando, Sabiá da Mata, Radiante, Borboleta, Paraguassu, Cecy, Guayanazes, Jandira, Tapuia, Lua Branca e quantas outras que enriquecem o populário musical brasileiro. Nunca será esquecido o famoso “Ó Abre Alas” – fanfarra de sua autoria, que, há perto de cinqüenta anos, vem servindo de toque de reunir aos carnavalescos cariocas. Ainda hoje, mal soam os primeiros guizos da folia o povo canta alegremente:

Ó abre alas!
Que eu quero passar
Eu sou da Lyra
Não posso negar

“P´ra cera do Santíssimo”, um outro grande sucesso, foi uma cançoneta cuja música, escrita por Chiquinha, era uma sátira melodiosa aos “irmãos de opa”. “Forrobodó”, revista de costumes cariocas, de Luiz Peixoto e Carlos Bittencourt, alcançou mais de mil representações com o seu baile na Cidade Nova. Dos seus tangos, nenhum foi tão famoso como o “Corta-jaca”. Essa dança sertaneja de origem afro-brasileira, sugerira a Chiquinha o tango maxixado “Gaúcho”. Tão ruidoso e prolongado foi o sucesso dessa música, que Nair de Teffé, a apreciada caricaturista Rian – esposa do então Presidente da República, incluiu esse tango no programa da última recepção presidencial, de 1914. O caso inédito na vida social do Rio, comentadíssimo, resultou na ascensão da nossa música popular às mais altas camadas da nossa sociedade.

Essa vitória foi devida à música fascinante de Chiquinha Gonzaga. A grande compositora não foi apenas a primeira maestrina brasileira, foi também a primeira mulher que escreveu música para teatro. Compondo tangos buliçosos, maxixes provocantes, partituras jocosas, passou toda a sua vida. Figura queridíssima nas rodas teatrais, foi a “Vóvó” dos artistas e assim conseguiu bater o “record” de compositora, escrevendo dois anos antes de partir para sempre, aos 85 anos de idade, a sua última partitura para a peça sertaneja de Viriato Corrêa – Maria.

Chiquinha Gonzaga que prodigamente esbanjou a sua inspiração e só tinha como riqueza a pauta e as sete notas musicais, morreu pobre. Alegre, simples e boa, foi a “Querida por todos”, como a chamou Calado ao oferecer-lhe uma polca, com esse título.

Na história do Rio antigo, Chiquinha tem um lugar destacado de mulher galante, de artista querida e de patriota sincera. Nas rodas elegantes sua figura fez época. Os fatos repetem-se.
Carmem Miranda, a famosa intérprete da moderna música popular brasileira, lançou em New York a moda do torço das baianas. Chiquinha Gonzaga, na mocidade, ideou graciosa maneira de dispor um grande lenço de seda sobre os seus cabelos ondeados e negros. Em vão pretenderam imita-la. Impossível. Ela ajeitava o lenço sobre a cabeça, no momento e com uma facilidade incrível. Invejada, contam que certa vez, uma dama de tradicional família do Império, passando por Chiquinha, na Rua do Ouvidor, num repelão audacioso, arrancou-lhe o lenço. Chiquinha não se mostrou agastada. Rápida, apanhou-o do chão, sacudiu-o, arrumou-o novamente ante o olhar arrogante da invejosa. Restaurado o adorno com uma simples palavra rematou o incidente – Feia! Foi coberta de ridículo que a tal dama seguiu sob a galhofa dos transeuntes.

Inteligente, culta e bonita, tudo lhe parecia sorrir, no entanto Chiquinha sofreu e chorou! Foi a sua confissão, quando determinou o epitáfio: - Sofreu e Chorou! Sofrendo e chorando conseguiu alegrar durante tantos anos o povo da sua terra e estancar as lágrimas dos negros quando ao lado de Patrocínio, Lopes Trovão e outros abolicionistas, trabalhou pela liberdade dos escravos, compondo, interpretando e vendendo suas músicas em benefício da confederação Abolicionista. Já velhinha, tomou a iniciativa do mausoléu de Francisco Manoel, autor do Hino Nacional Brasileiro, erigido no Cemitério de Catumby.

Nenhum título melhor cabe a essa grande brasileira, que o conferido pelo almirante Fournier, comandante da Divisão Naval Francesa do Atlântico, ao oferecer-lhe uma linda medalha bizantina – “Alma cantante do Brasil”.

Mariza Lira (2)

Notas:

(1) transcrição do texto original, escrito por Mariza Lira, feita por Jayme M. L. Filho em 22/05/2007.
(2)
Primeira biógrafa de Chiquinha. Musicóloga. Folclorista. Jornalista. Formada pela Escola Normal do Rio de Janeiro (na época Distrito Federal). Dirigiu a Escola Técnica Secundária do Rio de Janeiro. Foi membro da Comissão Nacional de Folclore (vide Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira).

Fonte do texto e das imagens: "Palcos e Salões - Colectaneas Rabello, 1924, Vol 1" (apresenta, sem critérios definidos, recortes de periódicos brasileiros da década de 1920 que tratam da programação cultural e de atores brasileiros). Biblioteca Pública do Estado do Rio de Janeiro – BIPERJ.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Francisco Mignone

Francisco Mignone (1897-1986) - Foto: Biblioeta Nacional
Algumas idéias de Francisco Mignone recolhidas para nossa apreciação:

"Não se pode escrever para as gavetas. Veja Wagner: chegou ao máximo da complexidade com o Tristão. Aí sentiu o perigo; e recuou para os Mestres Cantores. Veja o segundo ato de Aída: é grande música; e é música para todos, não para uma elite. A música vem do povo e deve voltar para o povo. Há algo na boa música que sugere de alguma forma a dança. Foi assim desde o começo da história humana" (1). "... Na idade provecta a que cheguei, posso afirmar que sou senhor e dono, de direito e de fato, de todos os processos de composição e decomposição que se fazem e usam hoje e amanhã. Nada me assusta e aceito qualquer empreitada desde que possa realizar música. O importante para mim é a contribuição que penso dar às minhas obras. Posso escrever uma peça em dó-maior ou menor, sem dor nem pejo, assim como elaborar conceitos de música tradicional, impressionista, expressionista, dodecafônica, serial, cromática, atonal, bitonal, politonal e quiçá, se me der na telha, de vanguarda com toques concretos, eletrônicos ou desfazedores de multiplicadas faixas sonoras. Tudo se pode realizar em arte, desde que a obra traga uma mensagem de beleza e deixe no ouvinte a vontade de querer ouvir mais vezes a obra. Não acontece isso também nas outras artes?" (2).

Vasco Mariz nos conta que "Mignone foi talvez o músico mais completo que o Brasil já produziu. Compositor de primeira ordem, excelente professor, experimentado regente, virtuoso do piano, acompanhador insuperável, notável intéprete de música de câmara, poeta aceitável, escritor cheio de verve, intelectual de ampla cultura geral, tornou-se uma das figuras mais importantes da história da música clássica brasileira. Vasco Mariz vê duas principais contribuições de Mignone para a música brasileira: "o conjunto de obras orquestrais inspiradas em temas afro-brasileiros e os seus lieders, ainda hoje muito populares entre os recitalistas. Saliento seus trabalhos para piano solo, entre os quais se destacam as 12 Valsas de Esquina (1938-42). Nelas retratou admiravelmente o ambiente sonoro dos chorões das primeras décadas do século XX no Rio de Janeiro, utilizando sua técnica pianística de modo a dar-lhes uma fluência extraordinária - cada nota surge e se encadeia com notável espontaneidade. Ao lado das valsa de Nazareth, as de Mignone não empalidecem; até as complementam" (3). A propósito, vejam esse vídeo com o depoimento de Mignone, que conheceu Nazareth.



Na compilação de discos 78 rpm incluída neste post podemos ouvi-lo ao piano e com um conjunto orquestral, interpretando composições próprias (4) e de Ernesto Nazareth (Brejeiro e Duvidoso), Eduardo Souto (Despertar da Montanha e Núvens), Moacir Braga (Cascata de Lágrimas) , Carlos Gomes (Quem Sabe) com Cristina Maristany (5), Alberto G. Fiuza (Celeste e Suave Tormento) ambas com o clarinetista Antenor Driussi (6).

Clique aqui para baixar a compilação

Notas:

(1) In: Luiz Paulo Horta - Francisco Mignone - Jornal do Brasil, 26/11/84;
(2) carta para Vasco Mariz, 1980, op. cit. pg. 193.
(3) YouTube
(4) Coca, Lenda Sertaneja Nº7, Miudinho, Valsa Choro Nº1, Valsa Choro Nº2, Valsa Choro Nº3, Valsa de Esquina Nº3, Valsa de Esquina Nº4,
Valsa de Esquina Nº7, Valsa de Esquina Nº8.
(5) cantora lírica, portuguesa, ainda criança foi morar no Rio de Janeiro. Um dos principais nomes do canto lírico ligeiro no Brasil tendo gravado várias obras de música popular. Estudou piano e canto, recebendo aulas da grande professora de canto Cândida Kendall e com Madame Poukine, na Europa.
(6) primeiro clarinetista da Orquestra do Teatro Municipal de SP. Foi aluno do também clarinetista e violoncelista Guido Rochi, solista de clarineta da Ópera do La Scala de Milão.Rochi foi muito ativo como professor fundador do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, em 1906.

Fontes: IMS (discos); YouTube (vídeo); FBN (foto).

Bibliografia:

(1) FBN
(2) História do Clarinete
(3) Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira
(4) A Música Clássica Brasileira / Vasco Mariz. - Rio de Janeiro : Andrea Jakobsson Estúdio, 2002, 192p.

Flauta, Cavaquinho e Violão

Arací de Almeida (1914-1988)
Ouçam o choro "Flauta, Cavaquinho e Violão", da dupla Custódio Mesquita/Orestes Barbosa, na voz de Arací de Almeida (Odeon, 1945). A letra da canção menciona "os tangos do Ernesto Nazareth", inclusive, há um pequeno solo com o tema de "Brejeiro".

Araci foi descoberta por Custódio Mesquita que a levou para emissoras de rádio da época (1933), e ficou famosa como intérprete de sambas nas Rádios Philips, Mayrink Veiga e Tupi, onde obteve sucesso com gravações memoráveis.

Para baixar a música clique aqui.

Fontes: www.ims.com.br (disco) e www.radio.usp.br (foto).

terça-feira, 1 de maio de 2007

Compositoras Brasileiras (Primeira Parte)

Georgina Erismann, Chiquinha Gonzaga e Luiza Leonardo
As partituras que apresentamos neste post fazem parte da série que denominamos "Compositoras Brasileiras". As partituras pertencem aos acervos da Biblioteca Nacional, do Arquivo Municipal de Salvador e do Instituto Feminino da Bahia. Elas podem ser encontradas nos sites da FBN e do Núcleo de Estudos Musicais da Bahia (NEMUS). Os discos 78 rpm encontramos no Instituto Moreira Salles.

A compilação das partituras é fruto do trabalho do autor do blog que pesquisou obras de compositoras brasileiras do século XIX e início do século XX, impressas pelas casas editoras brasileiras. Duas das dezesseis compositoras que incluimos nesta serie inicial são conhecidas: Luiza Leonardo Boccanera e Georgina Erismann.

Luíza Leonardo, nasceu no Rio de Janeiro e viveu os últimos anos em Salvador. Foi bisneta da Viscondessa de Nassau, filha de Carolina de Oliveira Leonardo e Vitorino José Leonardo - professor de música no Instituto Benjamin Constant e afinador da Casa Artur Napoleão e do Paço Imperial. Há um verbete na Enciclopédia da Música Brasileira (1) dedicado a ela. Quem quiser saber mais sobre Luiza Leonardo deve visitar o site A Mulher na Literatura.

Georgina de Mello Erismann, nasceu em Feira de Santana, cidade próxima de Salvador, poetisa, compositora e concertista, autora do Hino à Feira. Encontramos duas composições dela no acervo do IMS: Seresta na voz de Olga Praguer Coelho (Victor/1936, AHF); e Moreninha com Jorge Fernandes (Columbia/1937-38, AHF). Desta última música localizamos mais dois discos, também com Jorge Fernandes, gravados pela Continental. Em um deles (AJRT) consta a informação de que o acompanhamento é da Orquestra do Maestro Gaó.

Sobre Olga Praguer Coelho e Jorge de Oliveira Fernandes há igualmente um verbete na enciclopédia citada acima e uma referência ao cantor na literatura musical de Mário de Andrade (2):

“Também o sr. Jorge Fernandes (conf. Banzo, Odeon 4692) com sua voz tão simpática, como nasal não apresenta caracteres eficientemente nacionais”.

Para baixar as partituras e os discos incluídos na primeira parte da série "Compositoras Brasileiras" clique em: Parte 1a, Parte 1b, Parte 1c , Parte 1d, Parte 1e e Parte 1f

Notas: (1) Enciclopédia da música brasileira: popular, erudita e folclórica - 3ª ed. - 1ª riem. - São Paulo : Art Editora : Publifolha, 2003; (2) A música popular brasileira na vitrola de Mário de Andrade / texto pesquisado e comentado por Flávia Camargo Toni. - São Paulo : Editora Senac. São Paulo, 2004.

Fontes das fotos das compositoras:
arquivo de Ivana Pitombo (Georgina Erismann), Biblioteca Nacional (Chiquinha Gonzaga), A Mulher na Literatura (Luiza Leonardo).

Legendas:
AHF - Acervo Humberto Franceschi; AJRT - Acervo José Ramos Tinhorão).

Aviso: as partituras e os arquivo de áudio são para uso privado em estudo musical e em trabalhos escolares, não sendo tolerado seu uso em publicações de natureza comercial sem o consentimento do autor.