domingo, 28 de outubro de 2007

Ernesto Nazareth: para que conheçamos o que é nosso

Primeira folha do programa Audição de 30 Compositores  Brasileiros (Peças Breves para Piano).Com prazer anuncio a localização de um documento que pelo registro do acontecimento julgo merecedor noticiar. Trata-se do célebre programa de concerto denominado "Audição de 30 Compositores Brasileiros (Peças Breves para Piano)".

As peças anunciadas no programa são de importantes compositores brasileiros cujos nomes mais conhecidos relacionamos: Leopoldo Miguez, Luiz Levy, Francisco Braga, Carlos de Mesquita, Arthur Napoleão, Alberto Nepomuceno, Henrique de Mesquita, Júlio Reis, Villa-Lobos, Glauco Velasquez, Sylvio Deolindo Fróes, Henrique Oswald, Oscar Lorenzo Fernandez (grafado incorretamente como O. Fernadez Lorenzo), Fructuozo L. Vianna.

Instituto Nacional de Música (1922)O programa executado por alguns alunos do professor Luciano Gallet, organizador do evento, cuja duração não excedeu à 2 horas, e ocorreu no Salão do Instituto Nacional de Música, hoje Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no sábado, 16 de Dezembro de 1922, às 16 horas e, conforme destaque na primeira página, enfatiza "Com o concurso de Ernesto Nazareth - para que conheçamos o que é nosso -".

Na segunda parte do programa há a informação de que o autor executou 4 Tangos Brasileiros: Bregeiro, Nenê, Bambino e Turuna. Constam, aínda, do programa, notas sobre as edições das partituras das composições do Rei do Choro, feitas pelas casas editoras Arthur Napoleão, Bevilacqua e Vieira Machado.

Segundo nos conta Vasco Mariz, em sua obra "A Música Clássica Brasileira", o programa causou enorme escândalo pela ousadia iluminada de fazer Ernesto Nazareth interpretar os seus tangos. Ainda conforme relato de Vasco Mariz a obra supracitada, Luciano Gallett, folclorista e compositor, foi um importante organizador de atividades musicais e sobretudo professor. Fundou em 1924 a Sociedade Pró-Arte e, em 1930, a Associação Brasileira de Música, onde atuou até 1937. Dirigiu a revista WECO, da Casa Carlos Wehr. Como professor, realizou notável trabalho à frente do Instituto Nacional de Música (1930-31), lá reformando a estrutura do ensino, cujas linhas gerais persistem até hoje de acordo com a sua orientação. Seus amigos publicaram post-mortem o livro Estudos de folclore, com importante apresentação de Mário de Andrade.

É oportuno reproduzir um trecho da conferência feita por Mário de Andrade, na Sociedade de Cultura Artística, de São Paulo, a respeito de Ernesto Nazareth (Música, Doce Música, Livraria Marins Editora, 1976).

"Esta homenagem prestada a Ernesto Nazaré pela Cultura Artística de São Paulo me parece que é sintomática de tempos mais úteis. Além de ser justíssima. E é um gosto a gente constatar que não se carece aqui de garantia da polícia, como sucedeu no Instituto Nacional de Música em 1922, quando num concerto organizado por Luciano Gallet, aí se executou o Brejeiro, o Nenê, o Bambino e o Turuna. Satisfeito mesmo estou eu, e apesar de atravessado de enfermidades mesquinhas, fiz gosto em alinhavar na fadiga estas frases, pra vir junto dos senhores, trazer o meu aplauso a um artista, que usando a política sutil do talento, se fez escutar por uma nação."

Clique aqui para ver/baixar o programa completo em imagens JPG com resolução de 300 dpi.

Nota: as imagens do programa e da foto são do acervo da Biblioteca Digital da Escola de Música - UFRJ

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